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QUESTÕES DE GÊNERO E PSICANÁLISE

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O que realmente define a diferença sexual? E, ainda: será que existe uma única resposta para esta questão? No texto a seguir, François Ansermet nos leva a uma jornada psicanalítica para compreender que a questão transcende a mera biologia. Ele explora as dimensões subjetivas e sociais da identidade de gênero, propondo uma perspectiva clínica que valoriza a singularidade de cada ser, recusando-se a impor normas universais. Uma leitura relevante para quem busca aprofundar o debate. Eleger o próprio sexo: usos contemporâneos da diferença sexual François Ansermet 1     “Não se trata de uma eleição e sim de um fato”, afirmou há pouco tempo um paciente de 15 anos que veio me consultar por causa de seu projeto de mudar de sexo. De fato, sente-se capturado em um sexo que não lhe corresponde; disse experimentar-se desde sempre como uma menina presa em um corpo de menino e quer, então, mudar de sexo e espera o momento em que a cirurgia e a endocrinologia lhe permitirão realizar a metamo...

DO TRAUMA AO ACONTECIMENTO TRAUMÁTICO

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  TRAUMA E LINGUAGEM: ACORDA Heloisa Caldas - Agradeço a oportunidade que os organizadores dessas jornadas me deram de falar nessa plenária. Agradeço também a Marie-Hélène Brousse pela atenção de ler e comentar minha intervenção. Trauma não é um termo específico da psicanálise. Provavelmente foi trazido por Freud da medicina, que descreve variados tipos de traumatismos. No entanto, será preciso distinguir aqui a forma totalmente diferenciada com que Freud importou esse termo. Trauma em grego quer dizer ‘ferida’ e metonimicamente veio a indicar o evento que causou a ferida. Em psicanálise, Freud situou o trauma no trabalho inconsciente sobre a ferida, sua impossível cicatrização, por assim dizer.  É preciso esclarecer isso porque é comum confundir o acontecimento violento, suposto provocador do trauma, com o trauma como trabalho psíquico. Dessa confusão deriva a procura atual e frequente, inspirada em uma terapêutica de prevenção, que pretende evitar os eventos traum...

A DANÇA MACABRA DO CORPO: ANGÚSTIA E VUNERABILIDADE NA CLÍNICA PSICANALÍTICA

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  CORPO, ANGÚSTIA E VULNERABILIDADE: O CORPO NA CLÍNICA PSICANALÍTICA CONTEMPORÂNEA "Das imprescindíveis caminhadas diárias à ingestão regular de pílulas antioxidantes, o homem contemporâneo, tal qual o personagem Dorian Gray, de Oscar Wilde, busca a saúde, a beleza e a eterna juventude. Há um culto ao corpo que se manifesta nas academias, nos “spas” e nas clínicas de emagrecimento." Lucia Maria de Freitas Perez A temática apresentada pela mesa me conduz a interrogar sobre o lugar conferido ao corpo na clínica contemporânea, levando-me a problematizar as diversas modalidades de mal-estar existentes na atualidade e que fazem do corpo, paradoxalmente, um lugar de vida e de morte. Interrogação necessária já que verifico, cada vez mais, em minha clínica, uma forte incidência de certos fenômenos: da síndrome da “fadiga crônica”, a velha neurastenia freudiana, passando pelo estresse, pela hipocondria, pela fibromialgia e por outras formas de afecções psicossomáticas, é...

PSICANÁLISE E ARTE NA ÉPOCA DO FIM DO BELO

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O OBJETO DE ARTE NA ÉPOCA DO FIM DO BELO: DO OBJETO AO ABJETO. MARIE-HÉLÈNE BROUSSE O objeto de arte é um objeto comum ou um objeto  a  lacaniano? Se nos referimos à distinção que o próprio Lacan constitui no  Seminário a angústia , [i]  é um objeto comum. De fato, ele provém do modo especular de constituição dos objetos, ele é cotável e intercambiável como o demonstram as variações e especulações do mercado da arte. Enfim, ele depende da noção de concorrência, implicando rivalidade e acordo ao mesmo tempo. Entretanto, conforme G. Wajcman mostrou em sua obra  Collection [ii]  e seus trabalhos sobre colecionadores, por circular no mundo dos objetos comuns, ele não é menos investido por outro modo que, este, depende de toda uma lógica libidinal. Ele é, então, insubstituível. Amontoado nos museus, exposto ou escondido, colocado em série ou isolado por uma literatura especializada e elucidada por saberes precisos, ele permanece único, não mais partilhável que a...